5 pontos que chamaram minha atenção em "Do Material ao Digital" de Gui Bonsiepe
- Ana Ísis Moura
- 21 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
No universo do design, "Do Material ao Digital" de Gui Bonsiepe emerge como uma obra essencial que desbrava o intricado território entre o tangível e o intangível. Este artigo mergulha nas perspicazes observações do autor, destacando pontos-chave que transcendem as páginas, moldando a compreensão do design contemporâneo.
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O Futuro do Design e a Necessidade da Pesquisa
Bonsiepe sugere que a profissão de design, tal como é conhecida no presente, enfrenta desafios substanciais. Esses desafios podem ser variados, incluindo a rápida evolução da tecnologia, as demandas crescentes da sociedade e a necessidade de abordagens mais inovadoras para resolver problemas complexos.
O autor implica que o design não pode permanecer estático diante desses desafios. Ao contrário, é crucial que o design evolua, incorporando novos métodos, abordagens e conhecimentos para continuar sendo relevante e eficaz na resolução de problemas contemporâneos.
Bonsiepe propõe que uma das maneiras de impulsionar essa evolução é integrar o design mais profundamente aos institutos de pesquisa científica e tecnológica. Ele sugere que o design não deve ser visto isoladamente, mas como parte de um ecossistema mais amplo de conhecimento, colaborando com outras disciplinas para impulsionar a inovação.
O autor sugere que a falta de ênfase na pesquisa em design pode ter consequências negativas para a profissão. Sem uma base sólida de conhecimento e sem a capacidade de inovar constantemente, o design pode perder relevância e eficácia em um mundo em constante transformação.
No geral, Bonsiepe apresenta uma visão crítica para o futuro do design, instando os profissionais a adotarem uma postura ativa em relação à pesquisa e ao conhecimento. Ele propõe que, ao integrar-se mais profundamente à pesquisa científica e tecnológica, o design pode moldar seu próprio futuro de maneira mais significativa.
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Design na América Latina e a Luta pela Autonomia
Bonsiepe aborda a dicotomia entre dependência e autonomia na América Latina. Ele sugere que muitos países da região enfrentam uma situação de dependência, o que significa que estão submetidos a influências externas, sejam econômicas, culturais ou políticas. A busca pela autonomia é apresentada como uma resposta a essa dependência, representando um desejo de reduzir a influência estrangeira e fortalecer a capacidade de autodeterminação
O autor destaca o design como uma ferramenta crucial nesse processo de redução de dependência externa. Design, neste contexto, não é apenas uma prática estética, mas uma atividade estratégica que pode influenciar e moldar o ambiente econômico, cultural e social. A capacidade de criar soluções de design internas e relevantes contribui para a diminuição da dependência de ideias, produtos e conceitos provenientes de fora da região.
Bonsiepe destaca a ideia de que a busca pela autonomia não é apenas uma visão romântica ou idealista, mas uma realidade vivida na América Latina. Ele sugere que a fibra de independência é compartilhada e profundamente enraizada na região, sendo um elemento essencial do discurso e da prática do design.
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A Interface como Acoplamento Estrutural
Maturana e Varela propuseram a teoria do "acoplamento estrutural" para descrever a interação entre sistemas vivos e seu ambiente. Bonsiepe adapta essa teoria ao contexto do design de interfaces, onde o programa (software) e o usuário se tornam os sistemas interagindo. Assim como o acoplamento estrutural é fundamental para a sobrevivência de organismos vivos em seu ambiente, a interface é crucial para a interação eficaz entre o usuário e o programa.
A analogia entre a interface e o cabo para o martelo é utilizada para ilustrar a relação funcional entre o usuário e o programa. Assim como um cabo é essencial para a eficácia de um martelo, a interface é essencial para a eficácia do programa na realização das tarefas desejadas pelo usuário.
Bonsiepe destaca a importância do "espaço retinal" na interação entre o corpo do usuário e a interface. Esse espaço é estruturado por meio de qualidades visuais, como forma, cor, tamanho, posição, orientação, textura e mudanças ao longo do tempo. A percepção visual desempenha um papel central na forma como o usuário interage e interpreta a interface.
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O Design de Informação e a Transformação do Designer Gráfico
Gui Bonsiepe aborda a disciplina do design de informação, que lida com a organização e apresentação visual de dados e conceitos para torná-los compreensíveis e utilizáveis. O design de informação é crucial na sociedade da informação, onde a capacidade de organizar e interpretar dados é fundamental.
Bonsiepe propõe uma revisão fundamental do papel tradicional do designer gráfico. Em vez de ser apenas um visualizador, o designer gráfico é reconceituado como um "information manager". Isso implica uma mudança significativa de foco, indo além da simples apresentação visual para envolver-se ativamente na organização e estruturação da informação.
O termo "information manager" destaca a responsabilidade do designer gráfico na gestão da informação. Não se trata apenas de criar layouts visuais atraentes, mas de organizar a informação de maneira que seja compreensível, interpretável e eficaz para o público-alvo.
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O Manual do Usuário como Parte do Design
Bonsiepe questiona a visão tradicional que considera os manuais do usuário como um mal necessário. Em vez de tratá-los como uma exigência indesejada, ele propõe uma mudança de perspectiva, destacando a importância dos manuais no processo de design. Eles não devem ser tratados como elementos separados ou adicionados posteriormente, mas sim integrados diretamente ao processo de design. Eles são vistos como partes essenciais do design, contribuindo para a experiência geral do usuário.
Reconhecendo que a aprendizagem da ferramenta é uma parte intrínseca do processo de design, Bonsiepe destaca a importância de incluir os manuais do usuário como componentes ativos no desenvolvimento da interface. Isso implica que a aprendizagem não é uma fase separada, mas uma parte contínua e integrada da interação entre usuário e interface.
"Do Material ao Digital" transcende as páginas de um livro, tornando-se um guia para compreender o design e também o papel crítico do designer na sociedade contemporânea. Gui Bonsiepe desafia conceitos estabelecidos, incitando uma reflexão profunda sobre a natureza do design, sua evolução e seu potencial transformador. Ao explorar as nuances dessas reflexões, emerge um convite para os designers explorarem, questionarem e moldarem ativamente o futuro do design, contribuindo para uma prática mais significativa. É uma leitura que definitivamente vale a pena.
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